A medicina no Mundo Antigo

E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado; Para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 
João 3:14-15

Por Sarah K. Yeomans

A vida no mundo antigo era arriscada; os perigos da guerra, das doenças, da fome e dos partos são apenas alguns exemplos de circunstâncias que contribuíam para uma   esperança média de vida mais baixa entre as pessoas do mundo antigo do que entre os indivíduos da nossa era. No entanto, as pessoas desse mundo antigo estavam tão preocupadas com a prevenção de doenças como o estão as pessoas actuais. De facto, seitas inteiras, santuários, e profissões dedicadas à saúde faziam sentir a sua influência junto do panorama espiritual, físico e profissional do mundo antigo.

Então, de que forma é que as civilizações antigas combatiam as doenças e as lesões, e será que estes métodos têm alguma base na ciência tal como a conhecemos actualmente? As respostas podem ser surpreendentes.

AsklepiosEm muitas sociedades do passado, os deuses desempenhavam um papel integral na saúde humana. No mundo Grego, por exemplo, o deus Asklepios dedicava-se exclusivamente à cura*. Santuários com o nome de Asklepions atraíam os doentes e os feridos, que frequentemente viajavam dias e dias em busca de curas que eles acreditavam que poderiam ser encontradas nestes sanatórios. Relativamente semelhantes às estâncias termais actuais, os Asklepions disponibilizavam banhos, comida saudável e quartos-santuários feitos especificamente para dormir e meditar.

Muitos Asklepions encontravam-se localizados em áreas bonitas e remotas, tais como os famosos santuários de Epidauro na Grécia e Pérgamo no noroeste da Turquia. Eram feitos sacrifícios animais e oferendas votativas nos altares e nos templos para os deuses. Escavações feitas em Asklepions desenterraram “votivas anatómicas”, assim chamadas porque elas representavam a parte do corpo que se encontrava ferida e afectada por uma doença.

Por volta do século 5 A.C., os médicos e o deus da cura haviam-se tornado intrinsecamente conectados, com Asklepios a servir de patrono divino da profissão médica. Hipócrates, o mais famoso médico da antiguidade, viveu durante este período e os tratados médicos por ele escritos foram usados como livros didácticos durante os séculos que se seguiram. Tendo como base tais escritos, bem como outras inscrições, observamos que os médicos antigos sabiam que a punção, a drenagem e a limpeza de feridas infectadas promovia a cura, e que eles sabiam também que certas ervas tinham propriedades curativas e de desinfecção.**

Sabia-se que o gengibre selvagem [inglês: “Wild ginger”] ajudava a combater as náuseas, e que um tipo específico de argila encontrada na ilha Grega de Lemnos era benéfica para complicações tais como a disenteria. Esta argila, com o nome de terra sigillata devido ao facto dos discos estampados que eram formados com eles e vendidos como medicamento, contém o homólogo de elementos tais como o caulino e o bentonite, que nos dias de hoje são usados nos medicamentos como forma de tratar a diarreia.

As técnicas cirúrgicas do mundo antigo eram surpreendentemente avançadas. O famoso médico Romano Galeno (c. 129–199 A.D.), que nasceu na cidade de Pérgamo perto de Asklepion, é frequentemente considerado o mais bem sucedido pesquisador médico do mundo Romano, e alguns dos seus procedimentos médicos só voltariam a ser vistos no mundo moderno. Ele levou a cabo com sucesso cirurgias da catara ,inserindo uma agulha por trás da lente do olho como forma de remover a catarata, e os métodos de preparação da sala de operações por ele descritos revelam uma percepção aguçada do contágio.1 Embora algumas das suas prácticas e teorias ainda sejam seguidas e louvadas pelos médicos actuais, outras, tais como a rejeição das paredes do estômago como estruturas com algum papel na digestão, foram provadas pela medicina moderna como sendo falsas.

Por volta do século 7 A.D., a medicina como ciência que se encontrava relativamente independente das restrições religiosas desapareceu do Ocidente visto que o uso de cadáveres para dissecação científica havia sido proibido pela Igreja. No entanto, os estudiosos islâmicos no Oriente estudavam a medicina Grega com grande detalhe.*** [ed: Para se vêr a fonte deste conhecimento “islâmico”, ler: “A verdade sobre a civilização árabe“] Ervas tais como a meimendro e o cânhamo Indiano (relacionado com a marijuana) eram conhecidas pelas suas propriedades anestésicas, e os médicos colocavam ênfase nos efeitos da dieta alimentar e do meio ambiente sobre a saúde.

Muito provavelmente o mais famoso dos médicos orientais foi Abu ‘Ali al-Husayn ibn ‘Abd Allah ibn Sina (980–1037 A.D., Pérsia), cujo trabalho O Cânon de Medicina,  codificou o conhecimento médico existente. O Cânon inclui descrições, causas e técnicas de diagnóstico para condições tais como a raiva, úlceras do estômago, diferentes tipos de hepatite, cancro da mama, paralisia facial, difteria, lepra, diabetes, cancro e gota. Traduções feitas mais tarde Latinizaram o seu nome para Avicena, e por volta do século 13 o seu trabalho havia-se tornado um texto de referência médica padrão por toda a Europa Ocidental.

A arqueologia iluminou mais ainda as prácticas médicas do mundo antigo. Alguns esqueletos descobertos durante escavações arqueológicas exibem evidências de sucessos cirúrgicos surpreendentes. Talvez a evidência mais sensacional de sofisticadas cirurgias antigas pode ser encontrada em esqueletos que revelam sinais de trepanação, um processo ainda usado nos dias de hoje que é executado fazendo um orifício no crânio como forma de aliviar a pressão intracraniana.

Medicina__CraneoForam encontrados crânios trepanados de sociedades antigas da América Central e América do Sul, África, Ásia, Europa e Médio e Próximo Oriente que provavelmente datam de eras que podem chegar ao período Mesolítico, há cerca de 12,000 anos atrás [sic].2  Ao examinarem o crescimento ósseo em torno do buraco cirúrgico, os cientistas são capazes de determinar quanto tempo mais o paciente sobreviveu após se submeter ao procedimento. Alguns pacientes morreram imediatamente, alguns viveram algumas semanas, mas houve alguns que ficaram totalmente curados.

As escavações revelaram também prácticas dentárias sofisticadas feitas no mundo antigo. Numa vala comum de Horvat en Ziq, na parte Norte do deserto de Negev (Israel) um crânio datando de cerca de 200 a.C. contém uma das mais antigas obturações dentárias conhecidas. Um fio de bronze de 2,5 milímetros teve que ser inserido no canal do dente.**** Em outros locais, crânios recuperados das catacumbas de Roma, que foram usadas do primeiro ao quinto século A.D., exibem trabalhos dentais relativamente dispendiosos: foram recuperados alguns que tem obturações de ouro.

Ironicamente, são os monumentos funerários e as sepulturas dos antigos médicos que frequentemente atestam o seu cuidado pelos vivos. Tabletes que decoravam altares funerários exibiam com frequência os instrumentos da sua profissão – objectos que são espantosamente parecidos aos instrumentos usados pelos médicos actuais. Bisturis, pinças, sondas bifurcadas para examinar feridas, agulhas para costurar feridas, pequenas colheres para a limpeza de feridas e para medição de medicamentos, cateteres e até mesmo espéculos ginecológicos, são tudo exemplos de instrumentos usados pelos médicos da antiguidade.

Naturalmente que apelar para um poder superior para assistência espiritual durante uma provação médica ou durante uma doença, era comum no mundo antigo tal como o é nos dias de hoje [ed: o ser humano é naturalmente religioso]. Muitos hospitais modernos têm espaços de adoração não-denominacionais onde as pessoas podem orar e meditar; as pessoas da antiguidade visitavam santuários e templos para levar a cabo as mesmas actividades.

Os indivíduos que se preparavam para passar por provações perigosas, tais como um parto ou uma batalha militar, frequentemente invocavam a protecção do divino. Mesmo com a contínua evolução da ciência médica, a contemplação da mortalidade irá provavelmente levar os seres humanos a olhar para além do que é conhecido em busca de explicações que a ciência moderna ainda não consegue fornecer.

Modificado a partir do original: http://bit.ly/1vNniIB

Notas
* Bronwen Wickkiser, “Asklepios Appears in a Dream,” Archaeology Odyssey, July/August 2005.
** George B. Griffenhagen, “Origins: On the Pill,” Archaeology Odyssey, May/June 2002.
*** David W. Tschanz, “Origins: A Cure for the Common Cold?” Archaeology Odyssey, Summer 1998.
**** Hector Avolos, “Ancient Medicine,” Bible Review, June 1995.
1 See Galen, Galen on the Usefulness of the Parts of the Body, trans. by Margaret Tallmadge May (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1968) and A. Sorsby, A. Modern Ophthalmology (London: Butterworths, 1963).
2 See S. Missios, “Hippocrates, Galen, and the Uses of Trepanation in the Ancient Classical World,”Neurosurgical Focus 23(1):E11 (2007); P. Marino and M. Gonzales-Portillo,” Preconquest Peruvian Neurosurgeons: A Study of Inca and Pre-Columbian Trephination and the Art of Medicine in Ancient Peru”Neurology 47:4, (2000), pp. 940–955.
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1 Response to A medicina no Mundo Antigo

  1. Você escreve muito bem. És claro, conciso e preciso. Parabéns!
    Contribuo para este artigo sábio, com a sabedoria de nosso Deus:

    “Bendize ó minha alma ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.
    Bendize ó minha alma ao Senhor, e não se esqueça de nenhum só de seus benefícios.
    É Ele que perdoa toda as tuas iniquidades, e SARA todas as tuas enfermidades.
    Quem redime a tua vida da perdição, e te coroa de benignidade e de misericórdia. Quem enche a tua boca de bens (farta e saudável alimentação), de tal sorte que a tua mocidade se renova como a da águia” (Salmo 103:1-5 – SBB 1955).

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