O argumentativo Leandro aproveitou o espírito do carnaval, e mascarou a sua resposta de conteúdo .
«Não é contradição nenhuma,»
Ou é uma observação, ou é um postulado.Eu podia citar o dicionário para demonstrar que defender ambos é um disparate, mas tenho de ser capaz de usar os meus próprios argumentos 🙂
Tal como já disse, a inferência científica para o design é uma consequência das características e propriedades dos sistemas biológicos. Se não fossem as implicações teístas, toda a gente haveria de considerar a vida como resultado de design inteligente. Mas para algumas pessoas, o ateísmo fala mais alto que a ciência.
«Os estudos que já foram feitos, os cientistas que já foram enumerados, e tudo o mais, não te serve de evidência para a posição que afirma que é possível conhecer-se a teoria e rejeitá-la?»
Sem dúvida que serve! Mas a tua questão inicial – e, consequentemente, a minha resposta – era relativamente ao “fracasso darwinista” sobre as massas. O haver cientistas criacionistas não responde à tua própria questão. Já o estudo que eu proponho poderia ajudar a responder.
E o facto de haver biólogos não-criacionistas mostra que é possível conhecer a teoria e rejeitá-la?
«Totalmente falso, tal como mostrei com o exemplo do “Panda’s Thumb”.»
Mas tu já leste o livro? Certamente que não: deve ultrapassar o teu limite de páginas 🙂 e, se tivesses lido, terias notado que o mesmo se trata de divulgação científica e que o argumento de mau-design só surge como contra-argumento ao “bom design” por parte do criacionismo. E se tivesses notado isso não estavas outra vez a insistir no mesmo assunto.
Mas tal como já disse, mesmo que nós usêmos o argumento do bom design, o argumento do mau design não o refuta, tal como um carro avariado não refuta a certeza de que os carros têm um construtor. Agora se perguntas o motivo para um carro estar avariado, então já estás a saltar para fora da mecânica, do mesmo modo que ao perguntares sobre o motivo do “mau design”, tu já não estás dentro do domínio da ciência.
«Seguindo, o argumento “mau design” é tão ilógico, que os que o usam nem se apercebem que o “mau design” continua a ser design.»
Isso, parece-me, é uma incompreensão do argumento por tua parte. Quando um criacionista me chama a atenção para coisas formidáveis na natureza, inferindo dali que, certamente, terá existido um designer, eu terei de chamá-lo à atenção para todas as coisas não-tão-formidáveis que lá existem e que nos obrigam a levantar outras hipóteses.
E tal como já te disse, o facto de haver “mau design” não invalida o bom design, do mesmo modo que um carro avariado não invalida que os carros tenham um construtor. Não parece que estejas a assimilar (ou aceitar) isto.
Mas mesmo os criacionistas notaram que a hipótese de um designer divino tinha falhas e, munidos de um bom espírito científico, desataram a trabalhar em hipóteses que explicassem as observações.
A única falha que nós notamos foi na moral evolucionista em não aceitar a sua parte na presença de mau design no mundo.
Eis o que tu dizes a seguir:
«os cristãos podem defendê-lo teologicamente. O mau design (muitas vezes nem é mau design, mas sim ignorância evolucionista) é o resultado do pecado do homem (…) consequência do pecado (…) O mau design é consequência do pecado (…) etc.»
Mas o bom espírito científico acaba aqui.
Mas o “bom espírito científico” (seja lá o que isso fôr) tinha acabado quando tu pergutaste sobre a causa do mau design. Se tu fazes alusão a causas que vão para além das nossas observações, eu posso responder a isso mostrando como a Bíblia explica a presença do teu dito “mau design”.
Ora, tanto quanto sei o argumento do pecado ainda não é científico.
O argumento do “mau design” também não é “científico”.
E não é porquê? Porque não tens um meio de distinguir essa hipótese de outra qualquer – como, por exemplo, a hipótese de Satanás ter espirrado sobre o Eden e daí ter nascido todo o “mau-design“.
Uma explicação tem como finalidade esclarecer sobre eventos passados, prevêr eventos futuros, e justificar a minha capacidade em explicar o passado e prevêr o futuro. A explicação Bíblica sobre a origem das deformações genéticas explica o passado, prevê o futuro, e justifica a minha capacidade em poder fazer tais coisas. Portanto, embora não seja aquilo que tu consideres “científico”, as evidências confirmam-na. Agora a tua “explicação” sobre o espirro de satanás não explica o passado, não prevê o futuro, e muito menos justifica a minha capacidade em poder fazer previsões e a minha capacidade em poder fazer explicações. Ou seja, como argumento teológico, a tua explicação não explica nada.
«Não, regredir não é evolução, obviamente!»
Tens toda a razão. Utilizei a palavra errada. Regressão implica voltar a estados anteriores. O que eu queria dizer: mudar progressivamente de um estado a outro estado, mesmo que o estado posterior seja de “pior qualidade” também é evolução.
Não, não é. Se pensas assim, então a evolução não é ciência. Uma teoria dentro da Biologia que acomoda dois cenários mutuamente exclusivos não é uma teoria científica.
«Não tinham defeito inical. Tudo o que Deus criou era perfeito (Génesis 1:29-31). Depois do pecado do homem, Deus levantou alguma da força protetora que Ele tinha sobre o universo, e coisas más começaram a acontecer.»
Então o Homem tinha o defeito inicial de poder pecar. É isso?
Sim, se consideras o livre arbítrio como um “defeito”.
«Repito, o mau design não serve de evidência contra a Criação»
Quando os argumentos são teológicos e não científicos, quando levantas hipóteses que não podem ser testadas, nada serve de evidência.
Mas não fui eu quem começou com argumentos teológicos, mas tu. Tu é que fizeste primeiramente alusão ao suposto “mau design”. Já te esqueceste?
Estás safo: como não é falsificável, nunca vai ser refutada. Que bom! Podes ficar com a tua certeza indefinidamente, já viste! Eu adoro pessoas com certezas :’)
Isso vindo de uma pessoa que afirma que qualquer que seja o evento que se verifique no mundo animal, ele estará sempre de acordo com a teoria da evolução. Faço minhas as tuas palavras:
Estás safo: como não é falsificável, nunca vai ser refutada. Que bom! Podes ficar com a tua certeza indefinidamente, já viste! Eu adoro pessoas com certezas :’)
«Como tal, a moral absoluta, embora possa ser seguida por uma minoria, existe.»
A moral absoluta é seguida por algumas pessoas: é a moral baseada numa semântica universal, tal qual descrita por Umberto Eco. Eu sigo-a, por exemplo.
Quem disse que a moral que tu e o Umberto Eco seguem se aplica a todos os seres humanos?