Ateus juntam-se para discutir efeitos negativos da religião (excepto a sua, claro)

Ateus do mundo, uni-vos!
Conclave mundial do novo “ateísmo religioso”

Segundo notícia do site BBC (castelhano), ateus de todo mundo se reúnem na cidade australiana de Melbourne, para “celebrar” a sua descrença religiosa. Todos os ingressos foram vendidos já no início deste ano (2010).O objetivo dos neo-ateus, segundo a reportagem, será discutir “os efeitos negativos da religião na sociedade”.

Estarão por lá os mais combatentes ateus de todo o mundo, com especial destaque para o “sumo sacerdote” da nova religião, o ideólogo e autor de livros de auto-ajuda para ateus, o inglês Richard Dawkins.

O evento discorrerá, também, acerca do Islamismo e o terrorismo, numa seção intitulada “O preço da ilusão”, ocasião esta onde se proporá a realização de um filme acerca da quantidade de dinheiro que os contribuintes gastam em subsídios às religiões. Em seguida, ler-se-á um comunicado dirigido aos políticos do mundo, versando sobre “os feitos negativos da religião na sociedade”.


Este tipo de notícia vem ao encontro daquilo que há tempo venho afirmando, ou seja, que esta nova vertente ateísta é literalmente uma religião às avessas. Este evento me lembra ainda os antigos conclaves que se faziam na Idade Média, a fim de se discutir as melhores formas de se combater os “hereges”.Esses ateus religiosos são tão ou quase fanáticos quanto os antigos discípulos de Torquemada, com o diferencial do tempo e das armas. Sinceramente, como um não-ateu, não me sentiria seguro caso minha vida dependesse da decisão de um desses extremistas do “não-deus”.

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"Posterity will serve Him; future generations will be told about the Lord" (Psalm 22:30)
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7 Responses to Ateus juntam-se para discutir efeitos negativos da religião (excepto a sua, claro)

  1. Fabenrik says:

    Mats. seu blog com certeza é mais engraçado que o meu!
    Por isso tem um link de lá para cá!
    É diversão garantida.
    Antes eu até achava estressante certas afirmações que tu colocas aqui, mas hoje em dia eu já vejo de uma outra perspectiva.

    Fabenrik
    ateu e à toa

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  2. Mats says:

    Fabenrik,
    Obrigado pelo link que puseste no teu blog.

    Já agora, quais eram as afirmações que te deixavam estressado?

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  3. GINO S_CIO says:

    O papel da igreja católica na colonização da América espanhola foi fundamental para que a conquista do novo continente tivesse apoio, já que as atrocidades da Coroa espanhola não eram poucas, além de ser evidente a diferença entre as forças da Coroa e a maioria das forças indígenas.
    Levar a fé cristã para os povos “bárbaros” foi a desculpa ideal dos colonizadores, tanto para os outros, quanto para suas próprias consciências.
    Mas as atrocidades cometidas contra os indígenas eram absurdas. Chegavam ao ponto de massacrar por diversão quem quer que fosse, velhos, crianças, mulheres ou até mesmo mulheres grávidas.
    A Europa estava em um período conturbado, os antigos valores da sociedade feudal estavam em declínio, os alicerces da antiga sociedade não mais seguravam os instintos animais do ser-humano e os valores da nova sociedade, a sociedade capitalista, ainda estavam imaturos, não haviam instituições sólidas para essa nova sociedade, muito menos valores ideológicos definidos. Um dos únicos, se não o único valor característico da sociedade capitalista muito forte na época, era o desejo de enriquecimento acima de tudo. A vontade de acumular riquezas não era algo novo, porém isso como valor principal e grande motor da sociedade sim. Esse desejo “sagrado” de obter riquezas, junto com a vacância de valores morais somados a um novo continente onde haviam riquezas como ouro e prata em excesso e terra ainda inesploradas, sem um povo com a tecnologia militar e a organizaçao suficiente para se defender, resultou no massacre de cerca de 70 milhões de ameríndios em um século, das formas mais cruéis, desde guerras, escravidão, maus-tratos e doenças como a varíola e a rubéola.
    Apesar da Igreja Católica ser uma instituição com poder direto na época, muito influente entre o povo Europeu e seus reis, sendo na prática, uma instituição de domínio de classe da nobreza, seu tamanho e sua raíz ideológica (o cristianismo) davam condições para que contradições surgissem quanto à legítimidade de sua atuação na colonização, já que o centro das pregações cristãs (pelo menos no papel) era o amor ao próximo, o respeito ao outro ser-humano, a busca por uma sociedade harmonioza, sem matanças e sem avarezas. O fato da Igreja Católica ser uma instituição altamente organizada, com níveis de hierarquia muito bem definidos e que se expandisse por toda a Europa, acabava deixando bem longe alguns membros do “baixo clero” da influência direta do Papa e muito mais próximos do povo pobre.
    Padre Miguel Hydalgo, considerado o pai da pátria mexicana, o precursor da sua independência e Bartolomé de Las Casas, são dois exemplos de membros da igreja que viviam próximos ao povo que decidiram dedicar suas vidas ao que acreditavam, tendo como base os valores do próprio evangelho. Apesar de serem figuras distintas, com papéis e objetivos distintos e com a forma de atuar muito diferentes, são duas figuras que sem dúvida, deixaram marcado na história a resistência cristã as crueldades que na prática, eram apoiadas pela Igreja Católica.
    Um dos momentos onde as contradições dentro da própria igreja católica se tornarnaram claramente perceptíveis, foi no famoso debate entre Bartolomé de Las Casas (um frade dominicano) e Juan Ginés Sepúlveda (teólogo também da Ordem dos Dominicanos), episódio que ficou conhecido como Controvérsia de Valladolid.
    A trejetória de vida de Bartolomeu de Las Casas é bem interessante. Nascido em Sevilha no ano de 1484 chega na América no ano de 1502, tornando-se encomendeiro (*1) em 1514. No mesmo ano, presencia o massacre dos nativos em Cuba e influenciado por um Padre dominicano chamado Antonio de Montesinos (no qua Las Casas havia ouvido seu principal discurso em 1511), decide condenar o massacre e a lutar pelos direitos dos índios. O discurso de Montesinos que influenciou Las Casas foi o seguinte:

    ““Com que direitos haveis desencadeado uma guerra atroz contra essas gentes que viviam pacificamente em seu próprio país? Por que os deixais em semelhante estado de extenuação? Os matais a exigir que vos tragam diariamente seu ouro. Acaso não são eles homens? Acaso não possuem razão, e alma? Não é vossa obrigação amá-los como a vós próprios? Podeis estar certos que, nessas condições, não tereis maiores possibilidades de salvação do que um mouro ou um turco…”,. Cf. BUENO, Eduardo. Genocídio de ontem e hoje. In: LAS CASAS,
    Bartolomé de. op. cit., p. 12-13.”

    Las Casas, entre para a Ordem dos Dominicanos posteriormente e continua atuando em defesa dos índios. Depois de vários desentendimentos com encomendeiros poderosos de Chiapas, Las Casas abandona a diocese desta região e volta para a espanha, passando a publicar suas idéias por escrito. Vejamos as palavras do próprio Las Casas:

    “Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria as entranhas de um homem de um só golpe. Arrancavam os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a cabeça contra os rochedos […] Faziam certas forcas longas e baixas, de modo que os pés tocavam quase a terra, um para cada treze, em honra e reverência de Nosso Senhor e de seus doze Apóstolos (como diziam) e deitandolhes fogo, queimavam vivos todos os que ali estavam presos. Outros, a quem quiseram deixar vivos, cortaram-lhes as duas mãos e assim os deixavam.”

    As contradições no seio da Igreja Católica da época, demonstram-se também através de várias leis da época (A igreja era influente na sociedade mas o seu poder ia muito além disso, já que podia exercer poder quase que direto, já que não havia uma separação definida entre Estado e Igreja), inclusive muitas elaboradas pelo próprio Las Casas.
    São alguns exemplos de leis que justificavam a dominação:
    – A Bula Intercaetera, outorgada pelo Papa Alexandre VI em 1493, na qual legitimava a dominação espanhola no Novo Mundo desde que a fé cristã fosse difundida.
    – O Requerimento (de 1541) (*2) que declarava legal a guerra em caso de resistência e autorizava a intervenção nas colônias. A justificativa seria a que todas as regiões da terra pertenciam a Deus e que o próprio Jesus Cristo teria as transmitido para Pedro que as havia repassado para o Papa que as entregava aos reis católicos Aragão e Castela.

    Contraditóriamente, temos a aprovação de algumas leis elaboradas por Las Casas, como as Leis Novas de 1542, entre outras. Nos artigos de suas leis temos a garantia do direito dos Índios aos bons tratos, a uma alimentação digna e ainda o pagamento de um salário, a educação bancada pelos encomendeiros, instruíndo-os e evangelizando-os e os artigos mais radicais (aprovados pelas Leis Novas) que proibiam novas conquistas e determinava o confisco das encomendas existentes. Porém, a realidade não muda como um decreto, de uma hora para a outra. Além de se chocar com os interesses da elite (culminando com diversos motins de encomendeiros e com a criação de um instituto que permitia que as leis da coroa poderiam ser descumpridas na colônia, desde que houvessem justificativas), uma barreira a implementação destas leis era a própria estrutura feudal que valorizava muito mais os costumes do que as leis de fato (mesmo já estando a estrutura feudal já estivesse em declínio). Ou seja, as leis de Las Casas não consiguiram implementar uma mudança real, mesmo tendo sido uma grande vitória da época.
    Sobre esse clima de disputas que ocorre em 1550 o já citado debate entre Las Casas e Sepúlveda. Encomendado pelo Rei Carlos I, onde caberia a quatorze juízes ( especialistas em várias áreas) avaliarem os argumentos de cada um. Sepúlveda era um humanista famoso na época, muito influente, formado em Artes e Teologia, escreveu e traduziu obras em diversas áreas, como a história, a política a teologia e a filosofia. O centro do debate que durou vários dias, foi sobre a justeza ou não da colonização, no qual Las Casas tomou posições até mais radicais em suas argumentações do que as que vinha tomando. Chegando inclusive à relativizar o poder do rei, dizendo que este não seria aplicável em terras fora do próprio reino e a defender maneiras distintas de adoração a Deus, dizendo que os sacrifícios aos deuses (praticados pelos indígenas) eram uma das mais belas formas de demonstrar amor a Deus, já que entregavam o bem mais valioso de todos, a vida. Vejamos alguns trechos da argumentação de Las Casas:

    “Deste modo, estas gentes das Índias, que nós estimamos como bárbaros,
    consideram-nos, também, como bárbaros, pois não nos entendem e lhes somos estranhos. […] podemos afirmar que eles, com reta razão, por ver em nós outros costumes, estimam-nos não apenas como bárbaros da segunda espécie, que quer dizer estranhos, senão da primeira, isto é, ferocíssimos,
    duríssimos, aspérrimos e abomináveis.”

    “As nações que ofereciam sacrifícios humanos a seus deuses mostravam assim […] a alta idéia que tinham da excelência da divindade, do valor dos deuses, o quanto era nobre, e grande sua veneração pela divindade. Demonstraram, conseqüentemente, que possuíam, mais do que as outras nações, a reflexão natural, a retidão da palavra e o julgamento da razão […]. E em religiosidade superaram todas as outras nações, pois são as nações mais religiosas do mundo que, para o bem de seus povos, oferecem em sacrifício seus próprios filhos.”

    Já Sepúlveda, centrou suas argumentações nas idéias de superioridade racial e cultural, num direito natural. Vejamos partes de suas argumentações:

    “É justo e útil que [os índios] sejam servos, e vemos que isso é sancionado pela própria lei divina, pois está escrito no livro dos provérbios: ‘o tolo servirá aos sábios’. Assim são as nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acordo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas, de modo que graças à virtude dos últimos e à prudência de suas leis, eles abandonam a barbárie e se adaptam a uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se recusam esse império, é permissível impôlo por meio das armas e tal guerra será justa, assim como declara o direito 27 Citado natural (…). Concluindo: é justo, normal e de acordo com a lei natural que todos os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem essas virtudes.”

    No final das contas, os juízes declararam-se impotentes para proferir um vencedor, não havendo decisão formal. Las Casas morreu em 1566, chegando a defender, antes de sua morte, a retirada da Espanha das Américas e a punição dos espanhóis que não cumprissem esta decisão. Já Sepúlveda, morreu em 1573, famoso por suas obras.

    A história não pode ser mais contada como a história dos grandes homens e dos grandes fatos políticos isolados. Sabemos que essa forma de entender e explicar a história já está ultrapassada, mas alguns personagens conseguem ser ícones de uma época e de uma idéia, conseguem expor através de sua voz, sua caneta ou sua espada a mais alta aspiração de uma classe ou um setor de classe. Aglutinam em torno de si, valores que servem aos interesses de uma massa considerável e de necessidades históricas, implícitas ou não.
    Las Casas e Sepúlveda, principalmente durante a Controvérsia de Valladolid, representam, para nós, hoje, uma grande contradição dentro da igreja e da sociedade moderna quanto à colonização. O velho, o muito velho e o novo que ainda estava surgindo confrontam-se em terras já conhecidas e em terras desconhecidas. As necessidades reais de cada grupo, as ideologias que serviam aos interesses de cada um na época passada e na época ainda nascendo e a sua forma ortodoxa, lembrada apenas no papel, formariam um emaranhado de contradições características de um período de confusão social.
    Nossa tarefa é compreender essas contradições a fundo e conseguir estabelecer a relação dos personagens com a história real, utilizando de seu simbolismo para facilitar a compreensão de determinados fatores de uma época sem cair no personalismo, não será tarefa fácil. Principalmente por vivermos em uma época onde a maioria das pessoas enxergam tudo de forma estática, como se nada se transformasse ou estivesse em movimento, ou seja precisamos estabelecer novas bases, mesmo que de maneira rápida, partir de premissas distintas e fazer com que as massas compreendam a relação entre os diversos fatos.

    NOTAS

    *1 –. O índio era considerado livre, mas vassalo do rei, sendo que seu tributo deveria ser pago ao encomendeiro (como se fosse uma ponte entre o índio e a coroa). O produto dado como tributo poderia ser obtido tanto nas suas terras quanto nas propriedades dos encomendeiros.

    *2 – O requerimento era lido para os índios em espanhol, declarando “os seus direitos e deveres”, porém, os índios nada entendiam.
    Trecho do requerimento: “Se não o fizerdes [isto é, se não acatarem a fé cristã voluntariamente], ou se demorardes maliciosamente para tomar uma decisão, vos garanto que, com a ajuda de Deus, invadir-vos-ei poderosamente e far-vos-ei a guerra de todos os lados e de todos os modos que puder, e sujeitar-vos-ei ao jugo e à obediência da Igreja e de Suas Altezas. Tomarei vossos bens e far-vos-ei todo o mal, todo o dano que puder, como convém a vassalos que não obedecem a seu senhor, não querem recebê-lo, resistem a ele e o contradizem” Cf. TODOROV, op. cit., p. 144.

    BIBLIOGRAFIA – cedida
    Movimento EL CHE VIVE/MST

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  4. No dia em que esse bando de ociosos, provarem, como surgio os céus, a terra e tudo que nela há, inclusive a sua própria existência, e o funcionamento de seus corpos, de onde eles vieram e para onde irão, com certeza muitos irão segui-los, eles sequer sabem quanto Deus o todo poderoso, os livra de tantas desgraças, eles com certeza atribui a sorte os muitos milagres que eles e seus familiares recebem todos os dias, o primeiro deles, é quando abrem os olhos e percebem que estão vivos mais um dia, para maldizer o milagre da vida, que só um ser todo poderoso podem-lhes conceder, este ser é Deus, Deus de Abrão, de Isaac, e de Jacó. O mesmo que enviou seu filho Jeseus Cristo para dá-lhes a vida eterna, para todo aquele que nele crê, e for batizado, será salvo!

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  5. Ateus de curitiba, que tal organizarmos um encontro, seria muitissimo interessante não acham!
    Lucabi Brasil

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  6. Me parece um pouco temerário – senão mesmo esdrúxulo – comparar um encontro de ateus com os autos-de-fé realizados pela Inquisição. Não me lembro de qualquer ato de violência proposto por um ateu para combater as mazelas concretas, e sim, estas físicas, desencadeadas pelo fervor religioso.

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  7. Concordo com tudo que foi falado por aqui. Sem palavras esse artigo, congratulações para você.

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