Um comentador do blog do Ludwig disse:
Não são os próprios cientistas que dão relevo aos criacionistas? Ou seja, não se alimentarão eles mutuamente aqui? Os cientistas porque assim também podem criticar o criacionismo “como se faz lá fora”, os criacionistas porque dão o troco necessário para manter o debate vivo?
Sinceramente, eu não sei se alguém sabe de todas as causas que levam as pessoas a estarem cépticas em relação à teoria da evolução. No entanto, acho que algumas das razões são as seguintes:
1. O Design Biológico é óbvio.
* As pessoas ficam naturalmente cépticas com teorias que dizem que o mundo biológico é o resultado de milhões de acidentes, com o precioso filtro da sempre atenta selecção natural. A interpretação directa, sem rodeios e sem “prisões” filosóficas e religiosas é a de que o mundo mostra evidências de design porque foi feito por um Designer. No entanto a teoria da evolução tenta desesperadamente explicar como é que o design biológico apareceu SEM um Designer. As pessoas ficam naturalmente cépticas em relação a isso, mesmo que não sejam teístas.
Portanto, o design biológico é uma das razões que leva a que este debate (“Darwin vs Design”) esteja tão aceso.
2. Descobertas científicas.
* Nos últimos 50 anos a ciência tem descoberto níveis de complexidade dentro das formas de vida que vão para além daquilo que os evolucionistas de há 100 anos poderiam prevêr. Desde o próprio ADN, aos circuitos dentro da célula, as pequenas máquinas biológicas, o sistema de codificação para novas células, etc, etc. Tudo isto, somado àquilo que já se sabia sobre as formas de vida, leva a que teorias naturalistas sejam postas em perigo. Isto é tanto assim, que até cientistas não-teístas se têm rendido ao design biológico. Eles, apesar de não serem teístas, dizem que o que ciência tem revelado sobre o funcionamento das formas de vida é consistente com a visão do mundo teísta.
O Dr Michael Denton, um agnóstico, diz isto no seu livro “Evolution: A Theory in Crisis”:
“(…) The inference to design is a purely a posteriori induction based on the ruthlessly consistent application of the logic of analogy. The conclusion may have religious implications, but it does not depend on religious presuppositions” – pág 341
Portanto, a ciência tem mantido, e muitas vezes, re-animado este debate.
3. a Bíblia
* Obviamente que a Bíblia, a Palavra de Deus, tem um papel relevante neste debate. Uma vez que a Bíblia, sendo Um Livro que se tem revelado Fidedigno e Fiável em todas as matérias históricas a que alude, é atacado pela teoria da evolução, os Cristãos naturalmente são o grupo menos susceptível de acreditar que as formas de vida criaram-se a si próprias. Sim, há “Cristãos” que acreditam na evolução, mas a evolução deles é uma evolução “guiada” por Deus. Essa não é a evolução que os ateus têm em mente, e nem é a que é ensinada nas escolas públicas.
O que o Livro do Génesis diz sobre a origem da vida não só tem sobrevivido ao escrutínio da ciência, mas tem ganho mais e mais peso e aceitação entre pessoas com conhecimento do mundo Biológico.
A Bíblia é, portanto, uma das causas do cepticismo contra o darwinismo.
…
Para os darwinistas o debate sobre a evolução é a ultima coisa que eles esperariam depois de tanto tempo a terem a sua teoria a ser indoctrinada nas escolas públicas (com dinheiro público). Talvez eles devessem parar e pensar o porquê de tal facto. Talvez eles devessem meditar sobre o porquê de as pessoas terem dificudade e aceitar a noção de que o mundo biológico criou-se a si próprio.
Romanos 1:20
“Porque as Suas Coisas invisíveis desde a criação do mundo, tanto o Seu Eterno Poder, como a Sua Divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis”.
vocês interpretam a Bíblia?
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Tomo a liberdade de colocar aqui o post do jesuíta Francisco Dinis, moderador do debate craicionismo/evolucionismo.
Esclarece muita da visão cristã do assunto e do fundamentalismo criacionista protestante:
“É que o criacionismo não está apenas em contradição com a ciência, ele está também em contradição com o cristianismo. A leitura literal dos dois primeiros capítulos do Génesis não tem qualquer fundamento, e a crítica textual que já vem do século XIX, ajuda a perceber isso. O texto do Génesis quer apenas dizer que Deus é a explicação última de todas as coisas, e pretende também resolver o enigma do sofrimento e da morte.
A argumentação criacionista apresenta-nos um deus inacreditável, exterior ao universo e que se revela mais por certos acontecimentos inexplicáveis porque complexos, do que pela totalidade do universo. Se Deus existe e é o criador do universo, então Ele é tão identificável nas estruturas complexas como nas simples. Definitivamente, não necessitamos de um deus que é interessante sobretudo porque vem de vez em quando tapar os buracos da nossa ignorância, até que a ciência acabe por tapar esses buracos, dispensando esse deus.
A argumentação criacionista fundamenta-se numa epistemologia que procura avidamente vencer a ciência com contra-exemplos ridículos. Por exemplo: facto de um fóssil ter sido erradamente identificado como sendo de um hominídeo, acabando por se revelar ser de um burro, em nada contradiz as teses evolucionistas.
A argumentação criacionista continua a cultivar uma ontologia dualista que afirma ingenuamente a distinção/separação entre matéria e espírito, corpo e alma, este mundo e o outro, imanência/transcendência, etc. Estes dualismos só podem ter um carácter epistemológico. Distinguir não é separar.
A argumentação criacionista faz também uma leitura inacreditável do Novo Testamento ao pretender que tanto Cristo como os seus apóstolos fizeram uma leitura literal do Génesis. Esta interpretação resulta de uma leitura dos textos bíblicos completamente desinformada dos progressos da hermenêutica bíblica desde o séc. XIX.
A argumentação criacionista corresponde a um estado de alta ansiedade porque se recusa a enfrentar o facto de que a narração cristã tradicional sobre a origem do universo e da vida não poderá continuar a ignorar os progressos da ciência e necessita, por conseguinte, de ser substituído por uma nova narração que seja credível e compreensível pela cultura contemporânea.
Em suma, a argumentação criacionista descredibiliza-se a si mesma e, pior que isso, descredibiliza o cristianismo, oferecendo alegremente aos seus críticos muitas das armas com que actualmente acreditam conduzir uma guerra conclusiva contra a religião em geral, e contra o cristianismo em particular quando, de facto, apenas combatem contra um moinho de vento. Compreendo que o façam motivados pela influência que o criacionismo está a ter a partir da América. Mas seria bom não identificar o combate contra este terrível equívoco com uma crítica inteligente e informada da religião em geral e do cristianismo em particular.
Alfredo Dinis,sj”
http://companhiadosfilosofos.blogspot.com/2008/04/xx-jornadas-teolgicas-em-braga.html
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Sorry
Alfredo Dinis e não francisco Dinis
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timshel… depende do que quiseres dizer com esse “interpretar”
eu interpreto a biblia literalmente. As narrativas históricas como históricas, as narrativas poéticas como poéticas, as particularidades do discurso directo como discurso directo, as parabolas como parabolas, as cartas como cartas, as cronologias como cronologias… isto tudo tentando ter em conta o contexto socio-cultural da altura, assim como o vocabulario original utilizado.
Interpreto-a literalmente.
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“ter em conta o contexto socio-cultural da altura, assim como o vocabulario original utilizado” parece-me ser uma curiosa interpretação literal
exactamente a mesma que faz a Igreja Católica 🙂
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É? Se calhar é, se calhar nao é…
É a que se deve fazer.
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TImshel,
Claro que interpretamos a Bíblia.
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“Design Biológico é óbvio.”
O design biológico partindo do princiípio que existe um designer só é óbvio para quem quiser acreditar nessa parvoíce de um ser superior
“O que o Livro do Génesis diz sobre a origem da vida não só tem sobrevivido ao escrutínio da ciência, mas tem ganho mais e mais peso e aceitação entre pessoas com conhecimento do mundo Biológico.”
Tem ganho mais peso e aceitação? A sério? Viste isso aonde??
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Se vocês interpretam a Bíblia porque razão nuns casos consideram que certas passagens da Bíblia devem ser interpretadas de um modo que se aproxima de uma interpretação pseudo-literal (porque não existem interpretações literais) e outras não?
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Timshel,
Da mesma forma que sabemos em passagens dos “Maias” que algumas partes são literais e outras não são.
Tiago:
Há pessoas que nãoi querem acreditar em seres superiores que dizem que as formas biológicas aparentam terem sido criadas por Um Ser Superior.
Em muitos sítios.
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caro Mats
em qualquer boa obra literária (e suponho que a considerem pelo menos assim) existe uma fusão sem fronteiras entre o que é literal e o que não o é
coisas que parecem literais têm de facto um sentido (por isso é que são obras primas)
tal como com os ateus com a existência, vocês empobrecem a bíblia quando pensam que ela apenas relata factos
[[Mas nós não lemos TODA a Bíblia de forma literal.]] – Mats
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